terça-feira, 1 de maio de 2012

A MORTE DO PORTUGUÊS


                                Por Mário Gentil Costa (*)
 

Há dias, assisti a uma conferência de um filólogo espanhol que, falando de cátedra, após fazer uma ampla análise da expansão da língua espanhola no mundo, afirmava categoricamente que, dentro de mil anos ou ao longo do terceiro milênio, restarão, em uso no planeta, apenas quatro línguas: o inglês, o espanhol, o árabe e um quarto idioma que chamou de "chino", abrangendo uma provável fusão das línguas ideogramáticas orientais.
 

Todas as outras, a seu ver, irão pouco a pouco sendo absorvidas por essas quatro grandes e, ao final desse período, seu uso se restringirá a pequenas regiões, sob a forma de dialetos em franca deterioração.
Segundo ele, o espanhol é atualmente praticado por trezentos milhões de pessoas, abrangendo a Espanha e a América Latina.
 

Esquece-se de que outras línguas irão surgindo, eventualmente faladas por países em acelerado processo de desenvolvimento, e mil anos é um período muito extenso para se fazerem prognósticos dessa natureza.
 

Esquece-se, também, de que entre esses países em evolução, o aumento do índice populacional é muito grande; esquece-se ainda de que o atual progresso experimentado pela Espanha, extremamente discutível em termos de Europa, não encontra correspondência na maioria das nações latino-americanas, salvo umas duas ou três; esquece-se, sobretudo, de que o Brasil, sozinho, já tem quase duzentos milhões de habitantes e, juntamente com Portugal e suas ex-colônias, preenche um contingente de quase trezentos milhões de pessoas.
 

Além disso, apenas neste século, línguas importantes, como o alemão e o francês, deixaram de ser praticadas e ensinadas oficialmente nos colégios brasileiros e, supostamente, no resto do mundo, por meras razões geopolíticas e geoeconômicas.
 

Porém, tal situação está se invertendo, e é inegável a recuperação de seu prestígio, a julgar pela crescente oferta de cursos em todo o Brasil e, creio, nos demais países do ocidente. Isso para não aludir ao mesmo fenômeno em relação à língua italiana.
 

Quem pode predizer até que ponto essas importantes línguas, especialmente as duas primeiras, não reaverão o terreno perdido durante as duas grandes guerras mundiais?
 

Em última análise, acho por demais pretensiosa a profecia do filólogo espanhol. 
Concordo que sua língua é rica, melodiosa e importante, mas tenho minhas dúvidas sobre se apenas ela e as outras que citou cobrirão o planeta.
 

Sou de opinião de que, no próximo milênio, haverá um grande desenvolvimento das línguas orientais, especialmente do idioma japonês; acho que o inglês seguirá sendo a língua mais falada, pelas razões óbvias que ninguém é capaz de negar. 
Mas questiono sobre a aludida fusão sinonipônica e suas afins, e deixo a cargo do leitor opinar sobre a morte irremediável do português.
 

E, se isso acontecer, terá sido cometido um assassinato lingüístico injustificável com uma das mais belas línguas da Terra. 
Sim, porque não se envergonhem os meus compatriotas: nossa língua é uma das mais bonitas do mundo. 

Nós é que, em nossa incorrigível humildade e em nosso eterno complexo de país do chamado terceiro mundo, nos acostumamos a mal usá-la, distorcendo sua beleza com vícios de linguagem e contaminando-a com tantos neologismos ridículos e desnecessários.
 

Não foram raras as ocasiões em que, em meus frequentes contatos profissionais com turistas dos países vizinhos, testemunhei o prazer que sentem em nos ouvir, especialmente se falamos bem e pausadamente; não se cansam de apreciar e elogiar, expressa em conversa de melhor nível, a extraordinária musicalidade do linguajar brasileiro.
 

Por tudo isso, não deixemos que aconteça o que vaticinou o presunçoso filólogo. Não deixemos que o espanhol nos derrube. Temos, a todo custo, de preservar uma exclusividade que nunca soubemos cultivar: - 

Somos o maior país da América Latina e o único que fala português.
 

Nem temos consciência disso, mas, no fundo, lá no fundo, eles é que têm inveja de nós.
 

Continuemos cultivando essa prerrogativa! Não deixemos morrer o português!

Acrescentamos: A Lusofonia agradece!!!
 

(*) - Médico em Florianópolis - Contato: magenco@terra.com.br
Fonte: JB News - nº 612 - 01.05.2012

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