sexta-feira, 14 de outubro de 2011

CRÔNICA SOBRE O DIA DO PROFESSOR








15 de outubro - Dia do Professor: Comemorar o quê? (*)

Esta frase desponta discreta e tristemente em uma faixa, numa das passarelas de Natal/RN, poucos dias antes do Dia do Professor.

Calou fundo! E, de repente, tive vergonha!!!

Voltei no tempo e relembrei minha mãe recomendando, solenemente:

“- Na escola, obedeça, respeite a professora como se fosse sua mãe!”

Tive vergonha porque, noutro dia, uma professora foi baleada por uma criança...

Tive vergonha porque, há alguns meses, anos, sei lá, vi na TV uma professora que não queria mostrar o rosto, chorando e confessando ter medo de voltar à escola onde foi ameaçada e, depois, agredida por um adolescente...

Aí, me perguntei:

- Será que as mães de hoje ensinam seus filhos a respeitar os mestres?

Difícil, num mundo em que a autoridade dos pais quase não tem valor.

Era um dia 15 de outubro. Contava 06 anos de idade.

Orgulhosa, levei para a minha professora, uma rosca doce feita por minha mãe e embalada em papel celofane, com cuidado para não grudar na cobertura açucarada.

Mamãe regava a rosca ainda quente, com uma calda de leite e açúcar.

Ao esfriar, a calda deixava um brilho apetitoso e o açúcar cristal se sobressaía parecendo pequenos brilhantes...

Sentia orgulho por minha mãe ser tão talentosa e sentia orgulho por presentear minha professora. De mãe para ‘mãe’.

Ali, nasceu meu gosto pela poesia. Arrisquei minha primeira trova:

“Neste dia tão feliz

Também quero ofertar

Este simples presentinho

Para a data festejar”

Ainda me lembro do sorriso agradecido da professora.

Posso afirmar que parecia feliz em comemorar o seu dia.

Bons tempos aqueles!

Tive vergonha dos 15 de outubros que não enviei roscas, flores ou cartões, por meus filhos aos seus professores.

Talvez, eu mesma não tenha sido tão enfática com eles como minha mãe o foi.

- Será que valorizam seus mestres? – minha consciência acusa.

- Será que ainda posso render homenagem aos que foram meus mestres? – in memoriam – talvez, para muitos...

E, de novo, tive vergonha!

Aquela faixa, simplesmente deixada naquela passarela, deve expressar a frustração dos muitos não reconhecidos pelo seu trabalho.

Não recebem flores, não recebem cartões, não recebem pães feitos em casa, não recebem abraços, nem agradecimentos.

Não seriam tão frustrados com seus salários se, ao menos, fossem reconhecidos pelos seus discípulos, penso eu.

Num país onde os dotes físicos são explorados e aplaudidos, e os bumbuns sarados e desnudos mais bem pagos que qualquer professor que se preze, realmente, não deve dar vontade de festejar ...

Num país em que políticos, ministros e presidentes chegam ‘lá’ e nem sequer se lembram que tudo começou num banco escolar com um mestre a alfabetizá-los, e continuou com tantos outros a ensiná-los pela vida à fora e, hoje, num gesto de ingratidão, deixam os mesmos mestres falando sozinhos, implorando por melhores salários e melhores condições de trabalho - penso, mais uma vez: Não deve mesmo dar vontade de comemorar!

Aquela faixa, discreta, simples e triste, encerra o grito silencioso de cada mestre ignorado, mal remunerado, mal-amado por alunos mal-humorados, malcriados, mal-agradecidos...

Aquela faixa... sinto vergonha, mas, tenho que admitir: Comemorar o quê?

(*) Dra. Fátima Tiengo

Titular da SBDE, Especialista em Dentística Restauradora - 80 mestres depois,aproximadamente...

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