ANÍSIO LIMA DA SILVA
Campo Grande/MS
1º Tesoureiro
EXUMAÇÃO
A troca - A lua já ia alta na noite, projetando sombras levemente inclinadas dos
três homens, quase verticais.
Dois cavavam e um terceiro, o único de chapéu, um chapéu preto e de aba
larga, vigiava o muro. Apenas o barulho surdo das duas pás podia ser ouvido,
entrecortado de sons graves quando batiam em alguma pedra ou resquício de
cimento da cova. As cruzes também tinham suas sombras projetadas no chão
pedregoso, misturadas com o mato ralo que permeava as sepulturas mal cuidadas.
Cerca de 20 minutos e um dos homens
sussurrou alguma coisa, ao ouvir o barulho oco do caixão batido pela pá. O
outro homem afastou-se ligeiramente, e o que vigiava aproximou-se de forma
quase brusca, impaciente. Cavaram ao redor e logo estavam puxando a corda,
trazendo o esquife e, não com pouco esforço, arrastaram-no e o depuseram sobre
o monte de terra removido.
A outra cova, a menos de quinze metros,
foi revolvida com mais facilidade, talvez por ser rasa, ou, ainda, por conter
um cadáver mais leve. Ou por, sequer, conter uma lápide que a identificasse ou
se a tivesse, estava tão corroída pelo tempo e pelo descuido, que não causou
qualquer empecilho. Da mesma maneira, envolveram o caixão com a corda e o
arrastaram pra fora.
Meia hora depois, os caixões com seus conteúdos estavam trocados e as
covas reabertas tinham novos ocupantes. Procuraram camuflar o quanto puderam
sua ação, alisando a terra e espalhando seixos. Antes, o homem de chapéu e que
vigiava, ordenou que o primeiro caixão fosse aberto, no que foi obedecido pelos
companheiros, com o auxílio de uma alavanca, não sem o protesto de um deles,
que cobriu a boca e o nariz com a gola da camisa e desviou o olhar, quando o
clarão da lua escancarou o sorriso desnudo da caveira. Mas ainda conseguiu
vislumbrar algo como um lenço ou talvez um xale vermelho que tetricamente se
misturava com o vestido branco, amarfanhado, manchado. Um lampejo de piedade
apossou-se do rosto do homem de chapéu preto.
Ao se dirigirem para o portão de ferro, sujos da terra e do suor do
esforço, viram bem ao longe, a estrada que cortava a colina. Certificando-se de
que não podiam ser percebidos por ninguém, abandonaram o cemitério e
separaram-se poucos metros adiante.
O afilhado - Cinco anos antes, na casa elegante e decadente da rua principal da
vila, dona Amélia ralhava com o afilhado de dez anos.
- Não gosto de chapéu preto, Ximenes.
- Madrinha... vô Anselmo me deu... antes de
morrer...
- Seu avô não vai mais usar... mas não gosto de
chapéu preto...
- Era do vô... ele me deu...
- Não gosto de chapéu preto...
Dona Amélia abraçou o afilhado. A morte
do patriarca tornara o casarão o retrato da decadência, ele que outrora fora o
mais imponente da vila, palco de festas e de visitas ilustres. Mas não se tratava
de decadência econômica ou moral, pois Dona Amélia herdara sozinha os bens do
pai. Mais de quinhentos hectares arrendados para as plantações de soja e dois
ou três outros bons imóveis explorados pelo único sobrinho. Fernando repassava
pouco mais de dez por cento do arrecadado, não por estar assim contratado, mas
porque sonegava dela as informações. O sobrinho nutria a ilusão de que fazia o
certo, pois sendo o único herdeiro, estava apenas tratando de resguardar o
patrimônio que seria seu, calculava, não demoraria muito, e incentivado pela
mulher Beatriz, quase dez anos mais velha, tratava de aplacar resquícios de
remorso, arrependimento ou pudor. Fernando raramente visitava a tia, reclusa
com aquele afilhado, garotinho sem origem, que tio Anselmo, contava-se por toda
a vila, trouxera um dia para casa. Amélia afeiçoou-se pelo menino, cuidando
dele e quando foi alertada pelo Pároco, da natureza pagã do garotinho, tratou
de batizá-lo.
A morte - A tosse e as dores nas costas, companheiras de muitas noites e dias,
agravaram-se ao cair da tarde. Mas Dona Amélia não quis procurar ajuda, e
faleceu no meio daquela noite chuvosa de outono, quase só, não fosse o
afilhado, impotente com seus nove anos, ao lado da cama, segurando a mão fria
entre seus dedos pequeninos. Só se deu conta da morte da madrinha, quando
acordou de um longo sono, quase ao amanhecer, desperto por um barulho qualquer
que o corpo emitiu ao reagir aos primeiros sinais da decomposição que estava
por vir. Sem saber o que fazer, cochilou até o raiar do dia ao lado do corpo
inerte, rígido, frio e ao amanhecer foi procurar o tio Fernando.
A herança - Fernando esteve certo de seu direito de herdeiro e ciente de seu dever
de inventariante. Tão certo estava, que atendeu, poucos dias depois do
sepultamento, sem questionar e de imediato, o apelo choroso de Beatriz, e
pagou-lhe uma cirurgia estética numa renomada clínica da Capital.
Mas não demorou muito e foi surpreendido pelo Oficial de Justiça, e
atônito ainda perguntou debilmente do que se tratava, ao que, cheio de
prepotência e arrogância, o Oficial respondeu ao entregar-lhe a intimação e
exigir assinatura:
- Se você não sabe, eu é que vou saber?!
A ação era clara: munido de uma Procuração
e de um documento de próprio punho, com letra trêmula e rebuscada, assinada por
Dona Amélia, em que reconhecia o Ximenes como filho, o Gomes reivindicava a
herança para seu cliente, o menor Ximenes B. A. O.
Advogado, numa petição cheia de frases em latim, palavras rebuscadas e
citações de livros que nunca lera, mas copiara de outros processos, também
exigia lhe fossem entregues todos os documentos referentes aos bens da
falecida, além de minuciosa prestação de contas dos últimos anos.
Em casa, Fernando, possesso, esbravejou
ao relatar o ocorrido. Beatriz, ainda convalescente, rosto coberto de
hematomas, cara repuxada pelo botox, fez um muxoxo e continuou lendo
despreocupada, tentando não se incomodar. Não podia dar-se ao luxo de ter
preocupações e aborrecimentos, para não comprometer o procedimento estético a
que se submetera.
Justiça e meandros - Sem demora, Gomes se pôs a consultar registros e
descobriu que uma tal Valdirene B., que se dizia mãe do Ximenes, havia falecido
havia dois anos e estava sepultada a poucos metros de dona Amélia. Ouvindo
relatos dos moradores, soube que Valdirene levava uma vida fácil, como diziam
as mulheres mais velhas, tivera meia dúzia de filhos com vários clientes e para
não os deixar à míngua, doava a quem tivesse melhores condições de criá-los. E
assim fora com o Ximenes, diziam.
Durante cinco anos a justiça se debruçou sobre requerimentos e, data vênia, impugnações e contestações, sine qua non e fumus boni, até que o Meritíssimo decidiu pela exumação. E de nada
adiantaram as argumentações de Fernando.
Gomes soube de antemão, por intermédio do estagiário do Fórum que era
companheiro do advogado numa tal Confraria do Vinho que reunia algumas figuras
do lugarejo, dentre eles, o Oficial de Justiça que entregara o documento para o
Fernando.
O Oficial de Justiça, aliás, foi quem, após algumas taças, sugerira ao
Gomes, em conversa de pé de ouvido, a possibilidade da troca dos cadáveres, e
até mesmo a contratação de pessoas de outra cidade para ajudar no serviço, a
fim de evitar comentários. O fato se deu quando o estagiário disse que a Excelência
só se decidiria após comprovação da maternidade por meio de exame de DNA e o
Gomes manifestou sua preocupação, dada a possibilidade certa de não ser, o
Ximenes, filho legítimo de Dona Amélia.
Nessa ocasião, riram desbragadamente os três, sob o efeito do vinho, o
Gomes ostentando o chapéu preto de aba larga que surrupiara do Ximenes, e
fizeram troça com a falecida, apostando que morrera virgem! Naquela noite,
altas horas, fizeram conjecturas: Dona Amélia, sabedora das estripulias
financeiras do sobrinho com seu dinheiro, por apego ao afilhado, ou ainda, por
sintomas de senilidade, entendera por bem deixar tudo para o Ximenes, dizendo
ser ele seu filho.
Gomes até relatou trechos de conversas em que a falecida lhe
confidenciou suas preocupações, na época em que lhe outorgara a Procuração.
Certo é que imaginavam que não havia a menor possibilidade de que Dona Amélia
tivesse tido um filho.
O resultado: Sem delongas, o cadáver de Valdirene, que repousava na cova com a
lápide desbotada e carcomida, foi exumado como sendo de Dona Amélia. Amostras
foram comparadas com material biológico de Ximenes, num renomado laboratório da
Capital. Tudo sob o olhar solene da Justiça e o acompanhamento atento do
causídico. E o resultado não demorou: não havia semelhança biológica para
afirmar que fossem mãe e filho.
Gomes, possesso, rasgou o chapéu preto, e ainda foi tirar satisfações
com o Oficial de Justiça, mas levou uma descompostura, e não teve alternativa
senão conformar-se com a sentença que dava a posse dos bens ao Fernando, agora
reconhecido como único herdeiro de Dona Amélia. E ainda foi instado pelo Estagiário
a não tentar nenhum recurso, sob pena de suspeição, pois ouvira alguns boatos
sobre violação de cadáveres no cemitério local, e se o assunto prosperasse, as
autoridades seriam obrigadas a proceder investigações, com resultados
imprevisíveis.
Beatriz e Fernando providenciaram uma
reforma geral, deslocaram Ximenes para um quartinho aos fundos, e se mudaram
para o casarão.
No dia do aniversário de dezessete anos do Ximenes, Fernando deu-lhe de
presente um chapéu preto de aba larga, e ofereceu um emprego na lavoura,
enquanto Beatriz tomava a estrada, a fim de passar quinze dias numa clínica de
repouso.
ANTÔNIO INÁCIO RIBEIRO
Guarapari/ES
Honorário – Diretor de Divulgação da SBDE
PONTOS TURÍSTICOS DE GUARAPARI
QUEM DEVE SABER INDICAR O QUÊ!
Já há alguns anos morando em Guarapari, ainda não
conheci muitos guias turísticos que operem na cidade, o que não acontece nas
cidades voltadas para o turismo, onde a atividade é valorizada e bem
trabalhada.
Na alta temporada, quando a população da Cidade
Saúde é, no mínimo, quintuplicada, fica mais evidente ainda serem poucos os
que se põem a orientar turistas e veranistas sobre o que ver e fazer além da
praia.
Como a maioria vem em busca de sol, e por isso se
concentram na bela Praia do Morro, a superlotação lá acontece. O ideal seria
que fossem conhecer outras praias diferentes, para ficarem com vontade de
voltar.
Nestas, coloco entre as mais bonitas as joias da
Enseada de Nova Guarapari, Bacutia, Peracanga e a diferente dos Padres, sem
deixar de lado Meaípe, até para saborear a famosa moqueca de lá.
É importante lembrar que antes da Praia do Morro
existir, o que alavancou Guarapari foram as areias monazíticas da Areia Preta,
a das Castanheiras, dos Namorados, das Virtudes e a da Fonte.
Para que não fiquem só em praias, o Centro tem a
Fonte dos Jesuítas, a Antiga Matriz, as ruinas da mais antiga, a Gruta de
Santana e o cemitério famoso por inspirar o Jorge, do seu Bem Amado.
Na outra ponta, não pode ser esquecido o Morro da
Pescaria, por sua flora, fauna e uma trilha de cinema, que na maioria das vezes
alegra com os macacos que, quase sempre, estão em bando.
Estando naquele lado, os quiosques da Praia da
Cerca, além das diferentes Setiba e Santa Mônica, não devem ser esquecidas, e
ainda tem as três praias no seu caminho, que pode ser na ida ou na volta.
Alguns passeios caíram no gosto da maioria, e são
imperdíveis, como o das escunas. Outro é o trenzinho, sem esquecer das bananas
e até do helicóptero. Tem também os mergulhos.
Para sair do convencional, deve ser comentado sobre
Buenos Aires, onde é mais fresco nos dias de muito calor e a reserva do Parque
Paulo Cesar Vinha, com suas trilhas pela natureza.
O importante é conhecer, saber onde ficam, como se
vai, e quais os que não se devem perder. E comentar sempre!
Os que me visitam com motor-homes sempre saem
encantados.
E como eu, um já decidiu aqui morar. Outros virão!
EDIVAL TOSCANO
VARANDAS
João Pessoa/PB
A
INCRÍVEL HISTÓRIA DA ERUPÇÃO
DE UM
TÍMIDO CANINO SUPERIOR
Era quase meia-noite. Tremendo de frio e envolto
naquele saco embrionário, ainda com saudades do seu estágio de campânula, eis
que, timidamente, um canino superior desperta, a fim de promover sua erupção.
De esmalte hígido, quase transparente, como para deixar
bem claro transluzir sua dentina, sua primeira preocupação era esfoliar um
pouco a gengiva para se pôr de fora. Encabulado, lembrou-se de Guyton que
dizia: - O
osso quando envolve o dente se hipertrofia progressivamente e, destarte,
empurra o dente para fora.
Mas, ao mesmo tempo, sentia pena de machucar o
tecido mole. Timidamente, ergueu-se um pouco e penetrou na gengiva.
Primeiro, foi sua única cúspide, depois,
projetou-se, mostrando a totalidade de sua coroa e, ao abrir os olhos, notou,
morto de vergonha, que não era o primeiro a chegar à cavidade bucal. Seus
irmãos, os incisivos já estavam ali.
Aos poucos, viu que tinha uma coisa que poderia
fazer com que se orgulhasse um pouco mais perante os outros: era o maior deles.
Mas não demorou muito o seu orgulho, pois a timidez voltava quando a mamãe
natureza lhe impôs um apelido: “Presa”.
Os dias se passavam e, sempre cabisbaixo, se
projetando um pouco mais para a vestibular, livrando-se de uma má oclusão
devido a uma restauração alta de seu antagonista inferior, o tímido canino
perdia o sono todas as noites.
Uma pericementite atroz lhe atormentava
violentamente. E,
devido ao seu enorme volume, um seu vizinho mais próximo, um velho e cariado
molar decíduo, lhe lançava toxinas bacterianas a todo instante.
Era inevitável e, por mais que se apoderasse de
meios profiláticos, fora acometido de uma cárie em sua maior porção distal,
resultando numa pulpite que, juntando-se à pericementite já instalada,
perturbou-o por longos dias e intermináveis noites.
Brocas, limas, curetas, soluções irrigadoras, cones
de guta-percha, todos unidos numa só corrente, com o intuito de livrá-lo
daquela dor insuportável.
Triste e escuro, com o canal tratado, fraco de sua esnobe fortaleza, eis que um dia se rompe à altura do terço cervical, enfeando ainda mais a boca, na qual sempre sonhara viver íntegro e hígido até a morte.
Hoje, com os anos passados, atormentado por um pino que o desvia de seu longo eixo, sustentando, com a última de suas forças, uma velha coroa pré-fabricada, o tímido canino, cansado e fatigado de tantas e trágicas recordações, frustrado por um final não feliz, deixa escapar um profundo e tenebroso suspiro:
- Eu jamais deveria ter pensado em erupcionar...
EDUARDO SOUZA
Rio Branco / AC – Honorário
MUITO ALÉM DO JARDIM (1979)
Being There – Avaliação
do público: 8.0
Estrelada pelo ator inglês Peter Sellers, num dos seus melhores papéis,
essa película leva a abstração e a metáfora a níveis poucas vezes visto na
sétima arte.
Uma sátira, uma fantasia, ou uma mistura dos dois termos? Difícil definir.
Um simples jardineiro de limitada capacidade intelectual, se vê, de
repente, forçado a sair da casa onde viveu e trabalhou toda sua vida, após o
falecimento do seu patrão.
Sem nunca ter saído para o exterior da residência, e já passando pela
meia idade, é “jogado” a um mundo que conhecia apenas pela televisão. Um
controle remoto era tudo que ele possuía para mudar seu universo.
Ao sair da casa e vagar pelas ruas da cidade, ele enfrenta as primeiras
situações adversas, e ingenuamente, não consegue reverter nem mesmo com o
controle remoto, que tantas vezes o “ajudou”, quando trocava canais de tv, no
seu quarto.
Ele não entende por que seus objetivos não são correspondidos, mas
mantém a calma e a polidez.
Um pequeno acidente causa uma reviravolta na vida do nosso curioso e
inusitado personagem, levando-o a uma luxuosa e confortável mansão habitada por
um moribundo, e um séquito de auxiliares, incluindo a esposa do mesmo (na
“pele” da atriz Shirley Mac Laine).
Seu linguajar agronômico leva a associações filosóficas, que
fazem com que alguns dos seus interlocutores o confundam com um expert em
assuntos de alta relevância.
Fita com 2 indicações ao Oscar, levou o troféu de melhor ator
coadjuvante para Melvyn Douglas que, junto com Shirley MacLaine, conduzem esse
filme a um patamar de obra prima.
Ao falar e emitir opiniões apenas do seu universo específico de
jardineiro, que era o único que ele dominava, suas palavras em certos diálogos
são associadas e sintonizadas por interlocutores diversos.
Ao falar de sementes, flores, estações do tempo, galhos retorcidos e
épocas certas de plantio, sempre de maneira clara e gentil, desvarios são
imaginados por quem o escuta, sem questionamentos mais sérios.
Talvez porque, sem querer, ou propositadamente, as pessoas com
frequência, ouvem e interpretam apenas o que desejam...
FERNANDO LUIZ TAVARES VIEIRA
Recife/PE
Tesoureiro Geral da SBDE
SOU BRASILEIRO E
PORTUGUÊS!
Sou Português de natureza ascendente,
Tenho origem descendente.
Filho de filha de
Português nascente,
Nascido de Além-Mar no
Brasil,
Terra dita pelo mundo,
de encantos mil.
De dupla nacionalidade, nasci
no Brasil,
Sou Nordestino!
Assim quis Deus o meu
destino!
Mas de uma coisa me
orgulho a milhões:
Ser Português
ascendente, de Português
descendente da Aldeia de
Limões.
Cheio de ansiedade fui a
Portugal
Conhecer os meus
parentes.
Fiquei encantado com
tudo o que vi,
Conheci primos e primas
descendentes.
Da terra embora não nascido,
me sinto nascente!
Adorei tudo o que vi.
Nesse País também nasci,
Nessa terra de Joãos,
Pedros e Manoéis!
Agradeço a Cabral pelo
Brasil,
Ao meu Avô, por vir de
Portugal,
Aos meus pais, a geração
e amor vivido,
A Deus por minha vida e
meus papéis,
E ao Brasil onde nasci, cresci e vivi!
JOSÉ ANSELMO CÍCERO DE
SÁ
Rio de Janeiro/RJ
Academia de Artes, Ciências e Letras do RJ
{ Cadeira nº 29 - Patrono: Quintino Bocaiúva }
FRASE DE ESCRITOR: - Os
verdadeiros analfabetos
são os
que aprenderam a ler e... não leem.
Mário Quintana - Poeta Gaúcho (1906/1994)
O
SEGREDO DO ESPÍRITO
OCULTO DA LEITURA
É sabido que ler não é o
mesmo que pensar. Pode a leitura inspirar o pensamento – como pode paralisá-lo.
Por isso será imprescindível não só escolher criteriosamente as matérias de
leitura, como lê-las com inteligência.
Muitas pessoas que
dispõem de recursos, acumulam dinheiro como garantia contra eventuais azares
que a vida possa lhes propiciar na velhice, desdenhando ao mesmo tempo recorrer
a outros recursos, tais como a genuína cultura do espírito.
Os leitores se dividem em
duas grandes ordens. A primeira é a
daqueles que leem para relembrar, e a segunda
a dos que leem para esquecer, considerando-se que em nossas vidas há
momentos – de doença, irritação ou depressão – em que temos de ler para
esquecer.
Porém, as pessoas que
leem para relembrar são as que tiram da leitura o mais alto prazer, um deleite
que de ano para ano propicia mais conhecimentos; e essas pessoas recordarão por
vezes os seus próprios pensamentos, mais do que as palavras que, através da
leitura, serviram para despertá-los.
Mas em que consiste O SEGREDO DO ESPÍRITO CULTO DA
LEITURA?
Não basta dizer que
consiste em ler muitos livros: o segredo está não só em ler muito, mas em ler
com discernimento. Nunca devemos deixar que um escritor venha substituir por
completo a nossa atividade pensante, ou que ele pense tudo por nós.
À medida que se lê uma
página de revista ou livro, deve-se deixar lugar às indagações e reflexões que
ela provoque em nosso espírito: Será verdadeira esta constatação? E se for –
que alcance terá? Devemos parar, olhar e escutar.
Procuremos as harmonias,
que podem por igual surpreender na música, na natureza, e no encontro de ideias
novas, tão ricas de estímulos.
A leitura, em lugar de
simplesmente ocupar um espírito desprovido de conhecimento, deve excitar a
atividade mental, e desse modo conseguir a felicidade. Pois não resta qualquer
dúvida de que a pessoa mais feliz é aquela que elabora os pensamentos mais
interessantes.
A razão por que a poesia
narrativa nunca é tão profunda como a poesia lírica, é que a primeira forma por si só um todo completo; uma vez
lida, são favas contadas, isto é, infalíveis ou coisa contada, enquanto
que a segunda, na sua mesma
brevidade, não é, por assim dizer, uma constatação de fatos: é uma sugestão.
Outrora, não era possível
fazer fogo, a não ser que se tivesse aço, pederneira e mecha. Quando lemos, as
palavras do escritor provocam a faísca; mas a mente do leitor deve desempenhar
as funções da mecha, pronta sempre a irromper em chamas.
É possível, pois,
estabelecer à fundamental e sutil diferença que existe entre LER,
ENTENDER E COMPREENDER.
Como vimos, o ato de LER pode inspirar ou paralisar o
pensamento do leitor, isto dependerá do seu ENTENDER, isto porque, cada leitor pode entender de modo diferente,
pois que este entendimento se torna introspectivo para cada um deles.
Quanto ao COMPREENDER somente poderá ocorrer em
caso de o eleitor colocar o seu entendimento em prática, obtendo resultado
satisfatório para si.
Quando realmente isto
acontecer, poderemos afirmar que foi desvendado o SEGREDO DO ESPÍRITO OCULTO DA LEITURA.
De seu
livro: Tempo de Estudo Maçônico - Volume 2.
JOSÉ HENRIQUE GOMES GONDIM
Natal/RN
Tesoureiro Geral da SBDE
SONHOS DE POETA...
Peguei lápis e papel,
Papel com um lado rabiscado,
Rabiscado de antigos devaneios,
Devaneios imaginando ser amado.
Descobri agora o que quero:
Quero meus sonhos escrever,
Escrever pra você ser feliz,
Feliz para ao meu lado viver.
Meu coração permanece vazio,
Vazio de ternura e emoções,
Emoções que vieram do passado,
Passado embalado em canções.
Pensando no amor que não tive,
Tive uma inspiração e escrevi,
Escrevi meus primeiros poemas,
Poemas que eu ainda não li.
No começo, achei soltos os meus versos,
Versos que foram se somando,
Somando-se aos sonhos do futuro,
Futuro de um dia ser poeta.
Quando vi publicado o meu livro,
Livro que parecia utopia,
Utopia que se tornou verdade,
Verdade que eu desconhecia .
Agora eu me sinto feliz,
Feliz por poder te rever,
Rever nas páginas que escrevi,
Escrevi todas elas pra você!
JOSÉ ROBERTO DE MELO
{ EM MEMÓRIA }
A BRISA RECIFENSE
Entre as coisas de que gosto no Recife
a brisa se encontra na primeira fila.
Ela é sempre presente. Como moro no 9º
andar de um edifício, costumo deixar a janela do quarto aberta à noite, então
ela entra e dorme comigo, participando da intimidade conjugal. Espraia-se pelo
aposento, varre explorando cada canto.
Como no poema de Castro Alves com a
bandeira, ela procura objetos e beija e balança tudo que encontra. Na rua se
solta. Frequenta cada sombra. Ameniza cada pedaço. Faz mais suave o clima de
toda a cidade.
No mês de agosto, ela fica mais forte e
perde a vergonha.
Gostava, com a moda antiga, fazer
estripulias nas pontes sobre o Rio Capibaribe, revertendo as saias e
anáguas das moças e expondo à vista pública o colorido secreto das calcinhas.
Para delírio das mentes profanas.
Mas agora a mulherada está preferindo
usar calças compridas, então ela se encolhe como que envergonhada do seu
passado exibicionista. Prejudicado inclusive pelos vestidos mais estreitos de
hoje.
Desaforada, não
respeita privacidades. Apanha a poeira da rua e adentra casas,
emporcalhando tudo.
Os ventiladores se enchem de manchas
negras. Os cômodos exigem varrição diária. Tem pó até em andares
superiores como o meu.
Mas é impossível não lhe conceder
perdão. O frescor que vem com ela é delicioso. Compensa tudo!
Fonte: Seu muito acessado blogue
http://melo28.blog.uol.com.br – Publicado em 21.04.2013.
LUIZ MANOEL DE FREITAS
Natal/RN
Superintendente Técnico do
Projeto Reviver (Parceiro da SBDE)
SER GRATO
Ser grato é
fortalecimento, portanto...
Não faça da noite um
refúgio para chorar,
e em lágrimas esconder
mágoas.
Não pense que o dia
favorece
a luta amarga do poder,
e não use a noite para
se convencer do nada.
Acalme-se, sossegue, use
a razão,
deixando a vida
acontecer.
Não trave, nem se
expanda a passos largos.
Não viva sem amor e sem
perdão.
A dor tem origem nas
entranhas,
A pressa, dizem, é
inimiga da perfeição.
Tudo acontece no tempo
certo,
É melhor agradecer e
expressar só gratidão.
Sinta a energia que o
dia lhe transmite,
Serene com a noite, sem
solidão,
Faça valer o bom
sentimento que persiste,
Nada melhor para
fortalecer o coração!
MARIA DO SOCORRO
MEDEIROS SANTOS
Natal/RN
TOMADA DE
CONSCIÊNCIA:
FERRAMENTA
PARA APRIMORAMENTO EVOLUTIVO
Somos imagens e semelhança de Deus e por isso mesmo, viemos ao mundo
para nos evoluirmos de maneira significativa, prazerosa e feliz.
Herdamos do nosso Criador a perfeição, e qualquer aspecto de nossa vida
que não está perfeito, alguma falha como humano, precisamos identificar para
podermos manifestar a verdadeira essência que está aprisionada nessa
imperfeição.
Buscar todo o conhecimento das causas do incômodo que nos envolve, vai
nos ajudar a entender e compreender o que temos dentro de si que precisa mudar,
aperfeiçoar, ressignificar e expressar.
Quando temos a explicação de alguma coisa que nos incomoda, o
entendimento e a compreensão geram uma ampliação da consciência, e fazem surgir
uma força poderosa na busca de encontrar soluções possíveis de serem
realizadas.
Conheço muita gente que é perseguida, por exemplo, pelo sentimento da
culpa e, neste momento, reflita comigo: o que é a culpa? Para mim é uma
justificativa que a mente cria de algo que não deu certo, e aí se torna uma
obsessora dia e noite, deixando o indivíduo melancólico, triste e sombrio.
Sendo algo criado pela mente, logo ela
não existe, e por que não existe? É só pensar assim: tudo que fiz ou deixei de
fazer, era só o que sabia fazer, pois se
soubesse fazer diferente eu teria feito.
Pensando dessa forma e, se ainda ficar se culpando, deve procurar o que está fortalecendo essa culpa, que geralmente é a falta da humildade para aceitar nossos próprios erros.
MARY CAMARDELLI
Salvador/BA
E ASSIM COMEÇOU O POVOAMENTO DA BAHIA...
Sentença proferida em
1587 no processo contra o Prior de Trancoso (Arquivo Nacional da Torre do
Tombo, armário 05, maço 07), local onde se guardam todos os documentos antigos;
está situado em Lisboa, junto à Cidade Universitária:
Padre Francisco da
Costa, prior de Trancoso, idade de 62 anos, será degredado de suas ordens e
arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e
postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes Distritos, pelo crime que foi
arguido, e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com 29
afilhadas, e tendo delas, 97 filhas e 37
filhos; de 05 irmãs teve 18
filhas; de 09 comadres 38 filhos
e 18 filhas; de 07 amas teve 29 filhos
e 05
filhas; de 02 escravas teve 21 filhos e 07 filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da
Cunha, de quem teve 03 filhas. Total:
299, sendo 214 do sexo feminino e 85 do sexo masculino, tendo concebido em 53
mulheres.
Não satisfeito tal
apetite, o malfadado prior, dormia ainda com um escravo adolescente de nome
Joaquim Bento, que o acusou de abusar em seu vaso nefando noites seguidas,
quando não lá estavam as mulheres.
Acusam-lhe ainda 02
ajudantes de missa, infantes menores que lhe foram obrigados a servir de
pecados orais, completos e nefandos, pelos quais se culpam em defeso de seus
vasos intocados, apesar da malícia exigente do malfadado prior.
Mas agora vem o melhor: El-Rei
D. João II lhe perdoou a morte, e o mandou pôr em liberdade aos 17.03.1587, com
o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao
tempo e, em proveito de sua Real Fazenda, o condena ao degredo em terras de
Santa Cruz, para onde segue a viver na vila da Baía de Salvador como
colaborador de povoamento português.
El-Rei ordena ainda
guardar no Real Arquivo esta sentença devassa, e mais papéis que formaram o
processo.
NELSON RUBENS
MENDES LORETTO
Gravatá/PE
1º Secretário da SBDE
NÃO PEÇA A DEUS!
Não peça a Deus que retire as pedras do seu caminho; mas sim, que lhe
ensine a usá-las para construir pontes.
Não peça a Ele que acabe com as suas dificuldades; e sim, que mostre os
meios de superá-las e de aprender com cada uma delas.
Acredite no poder da Providência Divina.
Aja com inteligência, para saber suportar as dores e as adversidades
com fé, confiança e serenidade.
O destino impõe as adversidades para que, ao superá-las, possa aprender
a ser forte, e revelar a pessoa especial que existe dentro de você.
Independentemente de qualquer situação, tempo ou lugar, tudo o que está
determinado por Deus em sua vida, acontece.
O poder Divino não se explica, se vive!
E viver sob o Seu cuidado e proteção, é estar sempre abençoado. Confie!
Tenha fé, as coisas em vida só acontecerão quando você tomar posse
dessa Fé. Pense nisso!
ODETTE MUTTO
São Paulo/SP (*)
SAULO DE TARSO = PAULO
DE TARSO = SÃO PAULO APÓSTOLO
Saulo, nascido em
Tarso, na Ásia Menor, judeu fariseu convicto, possuindo também cidadania
romana, foi para Damasco lá pela metade do 1º século cristão, junto com alguns
soldados, para prender seguidores de
Jesus que ali haviam se refugiado, fugindo da sanha assassina de seu algoz
implacável.
Antes de chegar
ao destino, de repente, uma claridade intensa ofuscou-o, o cavalo onde ele ia
montado assustou-se, estancando bruscamente, derrubando o cavaleiro.
Saulo caiu de
cara no chão, apavorado porque não conseguia quase enxergar.
Surgiu no meio da
luminosidade uma figura de homem. Saulo tentou nervosamente fixar aquela imagem
e perguntou:
- Quem és,
Senhor?
-
Saulo, Saulo, por que me persegues? Sou Jesus Cristo!
Ato contínuo tudo
desapareceu, menos a cegueira na qual Saulo ficou mergulhado. Um companheiro de
jornada levantou-o da terra, colocando-o na garupa do próprio animal, e
seguiram para Damasco.
Saulo não parava
de repetir:
- Jesus me
cegou, Jesus me cegou!!!
Nos arredores da
cidade pararam. O companheiro avisou:
-
É aqui, vamos! Saulo
obedeceu, pois cegos não tinham vontade alguma, seguiam os guias.
Um idoso abriu a
porta sem dizer nada. Depois sentenciou:
-
Estou esperando vocês, entrem! Foi amparando Saulo até
a cama, ajudando-o a se deitar.
- Jesus Cristo
me cegou eu o vi, você acredita? - Sim!
- E agora? Vou
ficar deste jeito? Prefiro morrer!
O ancião
manteve-se calado, limpando com um pano o rosto e os olhos de Saulo cheios de
areia. Devagar adormeceu, pensando que queria morrer e não ficar cego, o
orgulho nato ainda falava por ele.
Quanto tempo
dormiu nem ele saberia dizer, mas ao acordar estava enxergando tudo.
Levantou-se de um pulo, abraçando comovido aquele homem simples com tamanho
poder de cura...
- Fui só o
instrumento que Jesus Cristo usou para te salvar.
Saulo não podia
entender, perseguira tanto os cristãos, tinha as mãos encharcadas pelo sangue
deles, mas em troca, Jesus lhe devolvia a visão. Ali jurou para si mesmo que
não seria mais Saulo de Tarso, mas Paulo de Tarso, o novo pregador da fé em
Cristo, a qualquer preço.
Preso e condenado
em Roma por estar divulgando o Cristianismo, teve o privilégio de ser
decapitado - a crucificação era proibida para cidadãos romanos. A posteridade,
em vista do juramento fielmente cumprido, transformou-o em SÃO PAULO APÓSTOLO.
(*) - Tem contos publicados em vários jornais, entre eles: O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo. Tem vários livros lançados: O Russinho; Marca de Nascença; Retrato de Tempo Inteiro; Escritos e Ambiente do Novo Testamento; Alienação.
Rio de Janeiro/RJ
ELEIÇÃO LIVRE DE ERROS
Temos de construir com a próxima
eleição,
Uma comunidade política sadia,
Livre de erros acumulados,
De pensamentos e ações dos
Parlamentares,
visando a si próprios e não, a
comunidade popular.
Cada eleitor deve refletir, dando
lastro à sua consciência,
Evitar influências deletérias de
sugestões ambíguas.
Juntar-se ao fato glorioso de servir
à boa causa,
Evitar raciocínios políticos,
visando somente dinheiro e Poder.
O ideal será que os eleitos
abandonem os interesses pessoais,
Dediquem-se aos do povo e aos da
Nação.
Que cada Mandatário escolha o
caminho correto
desejado pelo povo,
Obedeça as objeções de sua sadia
consciência.
A saudável política constitui-se de
luta honesta
E não, um meio de enriquecimento
ilícito!
THALES RIBEIRO DE
MAGALHÃES
Rio de Janeiro/RJ
TANCREDO
Um precioso recorte do jornal A Tribuna, de São João d’el Rei/MG,
datado de 1922, descreve a festa do Centenário da Independência realizada
naquela cidade.
Nela tomou parte o Grupo Escolar João dos Santos, no qual
estudou Tancredo Neves.
O episódio histórico está no fato do menino Tancredo Neves ter sido
escolhido para falar durante a cerimônia, deixando assim registrado o seu 1º discurso
na fascinante história de sua vida.
O discurso foi preparado pelo Dr. Antônio Ferreira Ribeiro da Silva,
médico muito conceituado na região
A festa foi realizada no Teatro Municipal da cidade, com início às 14
horas, com uma conferência do Dr. Baptista de Castro.
O Hino da Independência foi cantado pela senhorinha Hilda Alves da
Silva, e o inteligente menino Belisário Andrade Filho saudou Bandeira.
Finda a solenidade, o Dr. Ribeiro da Silva convidou os presentes a irem
ao Grupo Escolar para a cerimônia de plantação de árvores. Celebrava-se também
o Dia da Árvore. A senhorinha Julieta Costa Fernandes cantou o Hino da
Independência. Os alunos, cantando o Hino das Árvores, se dirigiram ao recreio
masculino, onde foi plantada uma árvore.
Ali falaram o menino Tancredo Neves e a senhorinha Hilda Alves da
Silva. No recreio feminino foi plantada outra árvore, recitaram versos a
senhorinha Julieta Costa Fernandes e a menina Lydia Viegas. Todos os alunos
foram muito aplaudidos.
As interessantes festas escolares evidenciaram, mais uma vez, a
operosidade do Dr. Ribeiro da Silva, auxiliado pela boa vontade de algumas
professoras.
Houve também um almoço aos presos da cadeia, oferecido por membros do
comércio.
À noite houve ainda um animado baile no Quartel do 11º Regimento que se
prolongou até alta madrugada.
Segundo descrição de Dª Lucila Magalhães, amiga de infância de Tancredo
e filha do Dr. Ribeiro, este obrigou o menino Tancredo a ler várias vezes o
discurso, corrigindo alguns defeitos.
Por outro lado, sua professora Maria de Lourdes Chagas, obrigou-o a
decorá-lo, prendendo-o em uma sala.
O médico tinha especial afeição pelo garoto, admirando sua
inteligência, afagando sua cabeça e dizendo-lhe: - Este menino será um
grande homem, segundo contava Dª Lucila.
Como se deslocava a cavalo pelas redondezas de São João d’el Rei em
atendimentos de urgência ou não, quando voltava era Tancredo quem recolhia o
animal, chamado Baio, e o colocava no quintal da residência, localizada
nas proximidades da Rua Municipal
Em conversa com o Cel. Antônio João Mendes, neto do Dr. Ribeiro, Tancredo contou-lhe um
fato curioso: ainda garoto, ia passando em frente ao consultório do Doutor, e
este o chamou para segurar a perna de um paciente acidentado, enquanto fazia
uma sutura para conter hemorragia
Um outro recorte do mesmo jornal, datado de 1923, mostra o nome de
Tancredo de Almeida Neves em entrega de diplomas pela conclusão do curso no dia
30 de novembro, no Grupo João dos Santos. Os recortes originais foram doados
por familiares Ribeiro da Silva ao Memorial Tancredo Neves, em São João
d’el Rei.
Tancredo nasceu naquela cidade, em 04 de março de 1910, vindo a falecer
em 21 de abril de 1985.
Maceió/AL
ROLEX
Um amigo meu, que
adora objetos caros de ostentação, realizou um desejo antigo e comprou um Rolex.
O curioso é que, ao comprar o caríssimo relógio, o importador que lhe vendeu
entregou-lhe também uma réplica idêntica ao original.
Disse-lhe que
aquilo era uma prática comum, já que existia um certo risco em ostentar no dia
a dia em nosso País, um relógio que custava algumas dezenas de milhares de
reais, e orientou-o a usar o legítimo apenas em ocasiões especiais e seguras.
Aquilo me
intrigou bastante - a princípio até pareceu-me uma boa ideia, mas depois fiquei
pensativo. Não seria melhor ter apenas a
réplica, já que esta era mesmo idêntica ao verdadeiro, e faria o mesmo efeito
pretendido - seja lá qual fosse ele?
Mas depois
repensei, e percebi que talvez seu ego não suportasse saber que o Rolex
que ele carregava no pulso não era original - no entanto, possuir um legítimo escondido no armário de
casa, guardado apenas para ocasiões
especiais e seguras, deixava-o confortável
para ter e usar a tal réplica - como
se o legitimasse a usar um redondo falsiê. Que louco, não?
Bem, um dia
desses, tive uma ideia também louca, num dia louco, aliás como ultimamente
todos vêm sendo...
Pensei que
adoraria que houvesse uma réplica de mim mesmo, exatamente igual ao original,
para que eu a usasse para fazer as coisas menos interessantes, maçantes ou
desagradáveis. Mandaria minha réplica pagar contas, discutir e atender gente
chata, correr uma hora na esteira, ir a enterros, fazer exame de sangue, ligar para call-centers
para cancelar assinatura, fazer DRs com
a mulher, ir a reuniões de condomínio, interagir em grupos chatos de WhatsApp,
enfrentar filas, ir a cartório, voltar a ir à missa, terminar séries e livros que não me motivaram a ir adiante e
acabar um monte de coisas inacabadas.
Enquanto minha
réplica estivesse lá fazendo as coisas chatas da minha vida, eu estaria fazendo
outras coisas mais bacanas e interessantes - ou até mesmo não fazendo nada, de
papo para cima.
Estaria guardado,
poupando-me somente para ocasiões especiais, como viagens, boas companhias e
ótimos programas.
Minha versão fake
trataria de se estressar por mim, de se irritar em meu lugar e me substituir em
tudo que me provoca tédio e impaciência.
Pena que não
temos essa opção, então somos obrigados a encarar, da melhor forma possível,
todas as vicissitudes que a vida em sociedade nos obriga.
Todavia, talvez
eu não esteja enxergando toda a verdade.
Muito provavelmente EU é que seja uma réplica de um outro EU original,
que a esta hora está num lugar bem melhor, de papo para cima, enquanto eu
acabei de correr uma hora na esteira, já, já vou pagar um monte de contas, e
depois vou ter de ligar para um call-center para cancelar uma
assinatura...
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