domingo, 21 de junho de 2009

DIPLOMA DE JORNALISTA

José Roberto de Melo

O Supremo Tribunal Feral decidiu que a exigência de diploma para o exercício profissional de jornalismo é inconstitucional.
Quando iniciei minhas atividades jornalísticas não existiam ainda os cursos superiores de jornalismo. Na verdade eu estava interessado na emancipação de Cortês/PE, na época um distrito de Amaraji, pobre e desconhecido. Pretendia torná-lo visível e pedia aos jornalistas do interior que escrevessem uma matéria sobre este distrito abandonado.
No fim da década de 4O, do século passado, a imprensa do Recife dedicava um grande espaço ao interior do Estado. Cada jornal tinha uma página inteira, diariamente,dedicada a ele. Mas, cada pedido atendido ficava em um artigo só. Foi quando me decidi a entrar pessoalmente na briga.
Fui com a cara e a coragem à redação do Diário de Pernambuco, levando no bolso um artigo. No jornal encontrei Waldimir Maia Leite chefiando a página do meu interesse. Tinhamos estudado ambos no Ginásio Diocesano de Garanhuns.
Saí do Diário com certeza de que a minha matéria seria publicada e mais: com a nomeação de correspondente do interior em Amaraji. Estava assegurado o espaço na imprensa que eu precisava para para defender Cortês.

Criada a nova cidade tive a honra de ser o seu 1º prefeito. Continuei usando a imprensa para divulgar o município. Juntei ao cargo de correspondente do Diário mais dois: Correspondente da Folha da Manhã e do Jornal do Commercio. Do Jornal do Commercio, lembro de Alcides Lopes, encarregado do noticiário do interior, me ofertando a carteirínha do jornal e de uma centena de cartões de visita com a designação de "jornalista" impressa.

Comecei a publicar o jornalzinho "A Cidade", que durante muito tempo levava o nome de Cortês Brasil afora. Fazíamos permuta com jornais do interior de vários Estados. Lembro-me de um de Viamão/RS. Cortês chegava ao Chuí, nos limites do sul.

Fiz parte de uma campanha pelo reconhecimento do jornalista do interior como membro efetivo da Associação Pernambucana de Imprensa, que era grande instituição da época. O jornalismo matuto se movimentava. Fazíamos congressos e publicávamos muito. Vários nomes se projetavam. A cultura do interior se projetava. Pelópidas Soares, jornalista de Catende, se elegeu para a Academia Pernambucana de Letras.

Foi então que apareceu a regulamentação da profissão de jornalista. Exigência de diploma. Trabalho de escriba remunerado. O pessoal que escrevia nas páginas dos municípios era praticamente todo de colaboradores sem remuneração. Os jornais recuaram. As páginas começaram a desaparecer. Com isso desaparecia uma cultura que parecia sedimentada. Só para comparar. O Jornal do Commercio publica agora uma coluna, aos sábados, sobre o interior. São notas descoloridas que mais parecem anúncios de classificados. Passou o entusiasmo telúrico dos correspondentes que defendiam com amor o seu pedaço. O apreço de adnegados por sua terra. A divulgação de tradições e costumes locais, feita por quem partipava deles.

É comum, quando se regulamenta uma profissão, provisionar permanentemente aqueles que já participavam do ofício. Alguém, não me lembro quem, me alertou que eu devia requerer o que achava era direito meu. Eu, além do jornal de Cortês, publicava semanalmente matérias assinadas em três jornais da capital. Requerí no Ministério do Trabalho o que alguém mencionado acima, achava que era direito líquido e certo. Meu processo foi enviado para o sr. Joezil Barros, presidente na época do Sindicato dos Jornalistas para parecer. O mesmo que hoje é um dos grandes dos Diários Associados em Pernambuco, mas que eu, com o devido respeito, sempre achei mais para burocrata do que jornalista, sem o brilho de um Aníbal Fernandes ou Mauro Mota. O parecer de Joezil me fulminou: como correspondente eu não era jornalista porque não me pagavam. Do jornal de Cortês eu não era jornalista, era proprietário. Sem comentários.

Livrei-me do vício de fumar com facilidade, com auto-hipnose. E fumava muito. Várias carteiras por dia. A mania de escrever eu conservo. Durante muito tempo colaborei com as "Cartas à Redação" do Diário de Pernambuco. Parei quando Leonardo Dantas deixou de dirigir a coluna e apareceu alguém que mexia nos meus textos. Colaborei na revista "Região" que circulou em Palmares. Publiquei durante dois anos crônicas semanais no "Diário" de Maceió. Conservo minha coluna no jornal da Sociedade dos Cirurgiões Dentistas de Pernambuco. Publiquei alguns livros. Atualmente, me devirto neste blog e conto com uma turma de amigos que sempre comenta as coisas que seleciono, lavando o meu ego.

Que Deus os abençoe, são muito caridosos

Um comentário:

  1. O que infelizmente observamos, meu caro José Roberto, ante a tresloucada atitude do Presidente do Supremo Tribunal, que estribado pela maioria dos seus Pares, é com o passar do tempo e trafegando em sentido contrário ao da história, veremos ser de somenos importância possuirmos uma formação acadêmica e, ou o seu legal comprovante de graduação. Voltaremos aos primórdios... à barbárie!... A quem interessa tamanha desfaçatez? Pergunto.

    Abraços do colega Gibson Azevedo

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